Acompanhe a transcrição do depoimento do irmão de George Floyd dado à sessão do Conselho de Direitos Humanos por videoconferência. O órgão realiza um debate urgente, a pedido de países africanos, após a morte do americano ao ter o pescoço pressionado contra o joelho de um policial.
“Olá, meu nome é Philonise Floyd. Eu sou o irmão de George Floyd. Em 25 de maio de 2020, meu irmão foi torturado e assassinado por quatro policiais em Minneapolis, Minnesota, nos Estados Unidos.
Agradeço por realizarem esta reunião urgente, pela oportunidade de falar com vocês hoje. Meu irmão estava desarmado e foi acusado de tentar passar adiante uma nota falsificada de US$ 20.
Todo o incidente mostrando o assassinato de meu irmão foi capturado em câmera. Minha família e eu tivemos que assistir aos últimos momentos de sua vida, quando ele foi torturado até a morte, incluindo os 8 minutos e 46 segundos em que um oficial manteve o joelho no pescoço do meu irmão. Meu irmão implorou ao oficial por sua vida, gritou por nossa mãe, que já morreu, e repetiu várias vezes. “Eu não consigo respirar.”
Mesmo depois de o meu irmão estar inconsciente, parar de se movimentar e parar de respirar, o policial manteve o joelho no pescoço do meu irmão por mais quatro minutos. Como muitos testemunharam, ele estava implorando ao oficial para tirar o joelho do pescoço e salvar sua vida. O oficial não demonstrou nenhuma piedade, nem humanidade e torturou meu irmão até a morte no meio da rua, em Minneapolis, onde uma multidão de testemunhas assistia e implorava para que parassem de mostrar a nós, os negros, a mesma lição: a vida do negro não importa nos Estados Unidos da América.
Nenhum dos policiais foi demitido por assassinar meu irmão até que pessoas em massa nos Estados Unidos e em todo o mundo, protestassem contra a injustiça.
Quando as pessoas se atreveram a alçar a voz e protestar por meu irmão, houve gás lacrimogêneo e foram atropeladas por veículos policiais. Várias pessoas perderam os olhos e sofreram danos cerebrais por balas de borracha e manifestantes pacíficos foram baleados e mortos pela polícia. Jornalistas foram espancados e cegos quando tentaram mostrar ao mundo a brutalidade que estava acontecendo no protesto.
Quando as pessoas levantam suas vozes para protestar contra o tratamento dos negros na América, elas são silenciadas. Elas são baleadas e mortas. Meu irmão, George Floyd, é um dos muitos homens e mulheres negros que foram assassinados pela polícia nos últimos anos. A triste verdade é que o caso não é o único. A forma como vocês viram meu irmão ser torturado e assassinado, diante das câmeras, é como as pessoas negras são tratadas pela polícia na América.
Vocês assistiram a meu irmão morrer. Poderia ter sido eu. Eu sou o guardião do meu irmão. Vocês, nas Nações Unidas, são guardiães dos meus irmãos e irmãs na América, e vocês têm o poder de nos ajudar a obter justiça para meu irmão, George Floyd. Estou lhes pedindo para ajudá-lo. Estou lhes pedindo para vocês me ajudem. Estou lhes pedindo que ajudem a nós, pessoas negras, na América.
Espero que vocês considerem criar uma comissão independente de inquérito para investigar os assassinatos policiais de negros na América e a violência usada contra manifestantes pacíficos.”